sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Crónica Luis Freitas Lobo

O moderno 'futebol dos predadores'

Luís Freitas Lobo (www.expresso.pt)
0:00 Quarta-feira, 24 de Fev de 2010

Decisões: O olhar da equipa "bem educada". A diferença entre esperar ou provocar o erro como forma de separar dois candidatos ao título.
Os melhores momentos de um jogo de futebol raramente são apenas um modelo de virtudes. Ou seja, ao momento de inspiração de um jogador (ou equipa) conjuga-se uma falha do adversário. Esse conceito de erro é, no futebol moderno, cada vez mais o que decide jogos. Existem, porém, formas diferentes dele surgir nos 90 minutos. O comportamento de uma equipa pode ser, assim, quase a de um 'predador' à espera que a sua presa se distraia. Ou, pelo contrário, usar estratégias para a desconcentrar. A grande distinção faz-se, portanto, entre equipas que esperam o erro do adversário e as que o provocam. É muito diferente. Ambas as estratégias são legítimas (dependem das armas que cada uma tem ao dispor), mas, no plano global, tal distingue desde logo a personalidade de cada onze.

No regresso do FC Porto à Europa, dois golos onde o fantasma do erro invadiu a área do Arsenal. Um guarda-redes 'furado' e um par de jogadores desconcentrados na hora de um livre indirecto. Dois factores que fogem à lógica natural (táctica ou técnica) do jogo, mas que, rindo-se das análises mais científicas, o resolvem num ápice. Cada vez mais as equipas esperam que o jogo traga situações destas. Mais do que provocar o erro do adversário, esperam por ele.

O Braga de Domingos não é, por definição, uma equipa 'cínica'. Tem inteligência ofensiva, mas na essência é uma equipa que assenta os grandes pilares do seu jogo numa imperturbável organização defensiva (a autoridade de Moisés) e aproveita felinamente (os arranques de Alan ou Paulo César, as aparições de Mossoró ou Aguiar) os momentos em que o adversário 'dança' nas marcações. Não provoca o erro porque corre poucos riscos, mas mais do que só esperar por ele pressente-o como nenhuma outra equipa neste campeonato. E, assim, tem ganho jogos atrás de jogos. Pode um campeão ser construído com estas bases? No futebol actual, sem dúvida. Não será, no plano estético, o projecto mais sedutor, mas é, no plano táctico, o mais frio e rigoroso. Diz Van Gaal que "a educação táctica dos futebolistas é o mais importante para uma equipa ter sucesso". Nesse sentido, o Braga é uma equipa tacticamente "bem educada".

É difícil imaginar, geneticamente, uma equipa do FC Porto com esse mesmo grande princípio de jogo. Pelo menos no plano nacional. Por definição, um onze azul-branco, quando não decide o jogo só pelo poder próprio, sufoca o adversário até ele errar. O grande desafio é perceber se, neste campeonato, esta será a melhor forma de vencer um candidato diferente (no nome e no estilo) de todos os outros que surgiram nas últimas décadas.

A forma como a palavra ansiedade tem surgido para descrever, esta época, muitas exibições do FC Porto perante adversários mais fechados é a maior diferença em relação ao passado, quando era a palavra serenidade que, mesmo perante os maiores cadeados, mandava no jogo portista. No fundo, o onze de Jesualdo necessita de uma diferente 'educação futebolística'. Jogadores capazes de perceber diferentes tipos de jogo. Pensar num meio-campo Fernando-Meireles-Micael implica três diferentes formas de jogo. Porque jogam todos em ritmos e estilos diferentes. A missão é dar-lhe (aos movimentos de cada um) uma ideia colectiva, onde o recém-chegado Ruben Micael seja o novo gestor da máquina (de tácticas e emoções). À medida que o campeonato se aproxima do fim, cada vez mais os jogos se decidem na chamada 'inteligência táctica emocional'. Controlar a ansiedade para precaver o erro próprio e prever o alheio. É o moderno 'futebol dos predadores'.

1 comentário:

  1. boa noite, visto que vocês não continuaram a colocar. vou usar a vossa ideia. espero que não de importem.
    Saudações Trofenses

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