quarta-feira, 19 de maio de 2010

"Como decidimos, como jogamos" por Marisa Gomes

A necessidade de decidirmos sistematicamente faz com que na maioria das vezes o façamos sem consciência daquilo que estamos a fazer. As decisões mais simples e as actividades mais rotineiras são aquelas que ocupam a maioria do nosso quotidiano e por isso, são as que nos definem. Contudo, não merecem a devida importância da nossa parte porque decidimos e pronto. Sem grandes reflexões, sem uma procura sistemática de interpretação não nos apercebemos da complexidade da nossa mente. No jogo essa complexidade aumenta na mesma proporção que nos ajuda a perceber como decidimos. O que nos permite fazer com que os outros decidam de forma mais eficaz possível.

Analisar um jogo permite-nos reconhecer um padrão de funcionamento das equipas resultante das interacções individuais dos jogadores. Ao observar o Barcelona vemos que se identifica pela forma como gosta de ter e conservar a bola para se superiorizar ao adversário. Do mesmo modo que defende e transita de acordo com esta dominância. Quer ter a bola, quer circulá-la, quer usufruir do prazer de a dominar em todo o terreno. A predisposição dos seus jogadores para a receber é uma característica que se reconhece em todos muito antes da bola chegar. O que faz com que no momento da sua perda procurem ganhá-la o mais rapidamente possível através do jogador mais próximo da bola e da rápida aproximação dos demais. No caso de não a conseguirem recuperar, fecham através de uma oscilação concordante com a bola (e o seu deslocamento). Com uma solidariedade colectiva que se reconhece na proximidade afinada com que o fazem. Fazem-no com uma naturalidade que lhes permite ganhar a bola mais cedo ou mais tarde. E quando isso acontece, procuram jogar com a segurança que lhes permita desfrutar da bola, como que a compensar o tempo que estiveram sem ela. Esta funcionalidade colectiva resulta das interacções individuais dos jogadores. Do modo como decidem. As escolhas convergem para esta funcionalidade colectiva e confere-lhes uma afinidade que emociona os que gostam do bom jogo de futebol. Pelo sincronismo, pela entrega, pelo prazer das escolhas naquilo em que acreditam. No que fazem. No que jogam. O que se manifesta no modo como se sentem uns nos outros.

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